Por Itamargarethe Corrêa Lima
Jornalista, radialista e advogada. Pós‑graduada em Direito Tributário, Penal e Processo Penal; pós‑graduanda em Direito Civil, Processo Civil e docência do ensino superior.
Vivemos em uma era marcada por dois pilares silenciosos e corrosivos: o individualismo e o materialismo. Esses dois elementos, quando inseridos precocemente na formação das crianças, têm se revelado como os principais catalisadores do avanço da depressão na sociedade moderna.
Hoje, educa-se para o “eu”, para o desempenho isolado e para a conquista de bens, como se o sucesso pessoal, por si só, bastasse para garantir uma vida mentalmente saudável. Entretanto, essa lógica tem criado adultos emocionalmente frágeis, socialmente desconectados e profundamente vulneráveis ao sofrimento psíquico.
O individualismo extremo afasta o ser humano de sua essência relacional. A criança que cresce sem compreender o valor da convivência e da coletividade mergulha, gradativamente, em um mundo onde o outro deixa de importar.
O resultado é a solidão, mas não aquela solidão que se vive pontualmente, mas a que se instala como estilo de vida. E a solidão sustentada ao longo do tempo é uma das raízes da depressão.
O materialismo, por sua vez, oferece um falso alívio. Ensina-se, direta ou indiretamente, que o valor de uma pessoa está em quanto ela possui, no que ostenta, no que exibe. A busca desenfreada por consumo substitui o cultivo de vínculos reais. Mas o vazio interior, esse, permanece. Quando a vida se reduz a aquisições, o esgotamento psicológico é só questão de tempo.
Há um exemplo simples, porém profundo, que a natureza nos oferece: os patos. Ao migrarem em formação de “V”, eles revezam a posição dianteira, respeitam o ritmo uns dos outros e só seguem adiante se todos estiverem juntos.
Quando um deles se fere ou se atrasa, dois se separam do grupo para acompanhá-lo até que possa retornar. Essa lógica de proteção e solidariedade deveria ser a base da educação humana: ninguém avança verdadeiramente quando alguém fica para trás.
Mas essa consciência não nasce de discursos, nasce do exemplo. A educação pelo exemplo é a única que, de fato, se consolida. É na forma como os pais vivem, tratam os outros, lidam com o fracasso, praticam o respeito e exercem a empatia que a criança aprende o que significa ser humano.
Valores como caridade, compaixão e solidariedade com o próximo precisam voltar ao centro da formação humana. Ensinar uma criança a dividir, a acolher, a ajudar, é ensiná-la a existir com sentido. A ausência desses valores não apenas desestrutura o convívio social, como corrói lentamente o equilíbrio emocional do indivíduo.
Biologicamente, esse distanciamento afetivo reduz a produção de serotonina e ocitocina, substâncias diretamente ligadas ao bem-estar, ao prazer de conviver e à sensação de pertencimento. O resultado é um sujeito vazio, funcional, mas sem alma; ativo, mas emocionalmente exausto.
A responsabilidade inicial é da família. É dentro de casa que se constrói (ou se destrói) o senso de comunidade, de partilha, de humanidade. É lá que se deve ensinar que viver não é apenas existir, mas coexistir.
A educação que cultiva o ego e o consumo está formando, silenciosamente, o depressivo de amanhã. E a sociedade precisa reagir. Urgentemente.
Sabe por quê? Porque não há equilíbrio psíquico possível fora da convivência, do amor ao próximo e da construção de sentido coletivo. O remédio que a alma pede não está nas vitrines, mas, sim, nos laços afetivos. Essa semana ficamos por aqui com a certeza de que logo nos reencontraremos. Até breve!!