Em depoimento à PF, Brenda Carvalho admitiu à Polícia Federal que não fez campanha e foi usada apenas para cumprir a cota de gênero no Podemos
A candidata também denuncia supostas ameaças que teriam partido de um empresário, pai de um deputado federal e avô de um dos vereadores eleitos pelo partido
A candidata a vereadora pelo Podemos, Brenda Carvalho, admitiu, em depoimento à Polícia Federal, que não realizou campanha e foi usada pelo Diretório Municipal do Podemos em São Luís apenas para cumprir a cota de gênero de 30% do partido. Segundo Brenda, após a divulgação de matérias que apontavam seu caso — revelado com exclusividade pela Folha do Maranhão — em que recebeu R$ 300 mil do Fundo Eleitoral e obteve apenas 18 votos, ela passou a ser alvo de ameaças.
De acordo com apuração da Folha do Maranhão, Brenda relatou em boletim de ocorrência ter recebido ameaças por SMS relacionadas ao vazamento de informações sobre supostos esquemas envolvendo fundos partidários nas eleições de São Luís. A ex-candidata apontou o empresário José Wilson de Macedo (Dedé Macedo), pai do deputado federal Fábio Macedo e avô de Fábio Henrique Dias de Macedo Filho, presidente municipal do Podemos em São Luís, como responsável pelas ameaças. Segundo Brenda, o rompimento ocorreu após sua recusa em assinar documentos relacionados às movimentações financeiras do partido.
No boletim, Brenda afirmou que sua candidatura foi acordada apenas para cumprir a cota de gênero e relatou a presença de veículos com vidros escurecidos estacionados em frente à sua loja, além de ligações suspeitas para sua sogra. Temendo por sua segurança, Brenda registrou o caso na sede da Polícia Federal.
Segundo apuração da Folha do Maranhão, Dedé Macedo, apontado como autor das supostas ameaças, não consta como presidente do diretório do partido em São Luís, conforme afirmou Brenda. O empresário também não aparece como presidente do diretório estadual do partido no Maranhão, nem em Teresina ou no Piauí, onde concentra grande parte de seus negócios.
Atualmente, duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) investigam o possível uso de sua candidatura como fictícia. A primeira, tramitando em segredo de justiça, foi protocolada pelos candidatos a vereador Eduardo Bezerra Andrade (Edu Andrade) e Matheus Mendes Lima de Moraes (Mateus do Beiju), ambos do Partido Liberal (PL). As ações apontam o alto valor recebido pela candidata do Fundo Eleitoral e seu fraco desempenho nas urnas, reforçados pelo boletim de ocorrência em que Brenda admite não ter feito campanha.
O Podemos se manifestou nas ações, alegando que a candidatura foi legítima e que os recursos foram devidamente declarados e fiscalizados. O partido argumenta que não há provas concretas de fraude e que a candidatura foi apoiada pela direção partidária. Em relação ao boletim de ocorrência, a legenda afirmou que os fatos relatados por Brenda não podem ser utilizados isoladamente para caracterizar irregularidades.
As ações buscam a anulação dos votos obtidos pelo Podemos, a cassação dos diplomas dos vereadores eleitos e o recálculo dos coeficientes eleitorais. O partido alega que uma decisão liminar nesse sentido violaria princípios constitucionais, como ampla defesa, contraditório e soberania popular, ao interferir no resultado das urnas sem a devida análise das provas.
O advogado José Carlos do Vale Madeira, representante do Podemos, destacou que a suspensão da diplomação dos eleitos seria precipitada. “É imprescindível que o juízo observe todas as garantias processuais antes de tomar qualquer decisão que possa afetar a vontade soberana dos eleitores”, afirmou.
O caso segue em análise pela 1ª Zona Eleitoral de São Luís, que deve aguardar manifestação do Ministério Público Eleitoral (MPE) antes de decidir se dará continuidade ao processo.
Com informações da Folha do Maranhão e alterações do Site Observatório