Por Itamargarethe Corrêa Lima
Jornalista-radialista-advogada, pós-graduada em direito tributário, penal e processo penal, pós graduanda em direito civil, processo civil e docência do ensino superior.
No encontro de hoje iremos usar uma das mais tenebrosas tramas shakespearianas para demonstrar que os aspectos sombrios que atormentam a mente humana ultrapassam a barreira do tempo. E para deixar que o imaginário popular flua, iremos usar como pano de fundo a peça do inglês William Shakespeare que retrata a tragédia dos Macbeth.
Escrita no século XIX, o drama que se passa na Escócia no século XI, mostra como o protagonista, o nobre Macbeth deixa de ser herói e se transforma em tirano. O orgulho, vaidade e ganância da sua amada esposa – Lady o influenciam, levando-o a trair seus princípios. Posteriormente, ambos são obrigados a lidar com as consequências dos seus crimes.
O casal, após executar o rei Ducan, assume o trono escocês. Porém, com o passar dos anos, embora tenham conseguido seu intento, os Macbeth vão se tornando cada vez mais insensíveis e sujando as mãos de sangue. O que leva, Lady, tomada pela culpa, a ter alucinações e cometer suicídio.
E o que isso significa: Em meio à velocidade tecnológica da vida moderna, alicerçado no capitalismo exacerbado, muitas pessoas travam batalhas internas silenciosas, marcadas por sentimentos persistentes de culpa, inadequação e fracasso que eram vivenciadas no passado assim como no presente.
Essas vozes internas, muitas vezes, ecoam mais alto do que qualquer palavra externa. Para quem vive com depressão, esse diálogo interno pode se transformar em um verdadeiro tribunal da consciência: um lugar onde se é, ao mesmo tempo, réu, acusador, advogado e juiz.
Oportuno ressaltar que essa ideia de um “tribunal interior” não é recente. Diversos pensadores refletiram sobre esse mecanismo interno de julgamento. O filósofo Emmanuel Kant, por exemplo, descreveu a consciência como uma instância moral inevitável, que nos acompanha mesmo quando tentamos fugir de nossos erros.
Já Freud, pela psicanálise, compreendia o superego como uma instância psíquica que internaliza normas sociais e morais, punindo-nos com sentimentos de culpa e vergonha quando falhamos.
Alguns estudiosos defendem que além da filosofia e à psique, a psicologia transpessoal pode ser usada por muitos como o condão para encontrar sentido, consolo e redenção diante desse tribunal interno. Em diversas tradições religiosas e espirituais, a consciência é compreendida como a “voz de Deus” no coração humano.
Santo Agostinho defendia que a consciência é o lugar onde Deus fala conosco. No entanto, essa voz divina não se confunde com o autojulgamento cruel e implacável. A verdadeira religiosidade não nos quer presos à culpa, mas conduzidos ao arrependimento sincero, ao perdão e à reconciliação com nossa humanidade.
A depressão, infelizmente consegue distorcer a voz que atormenta as pessoas em sofrimento psíquico intenso, os quais costumam se sentir condenadas, como se sua existência fosse um erro irreparável. O tribunal da consciência deixa de ser um espaço de correção e se torna uma prisão de culpas passadas.
A beatitude, nesse contexto, pode atuar como um recurso terapêutico profundo, reencaminhando o sujeito para um encontro com o sagrado, ensinando-o a diferenciar culpa de responsabilidade e oferecendo a experiência do perdão.
O tribunal da consciência é uma realidade humana. Ele nos desafia e corrige, mas também pode nos adoecer quando se transforma em um mecanismo de punição constante. Nesse contexto, confiar nos ensinamentos do Pai, pode ser a chave de transformação que vai ensinar que os nossos pensamentos não deve esmagar e, sim, conduzir a um lugar mais alto de compreensão, perdão e reconciliação interior.
Em tempos de tanta dor silenciada, promover o diálogo entre os ensinamentos sagrados, saúde mental e autocompaixão é mais que urgente: é um gesto de amor, é um caminho de cura. Porque, no fim, o tribunal mais justo é aquele em que aprendemos a julgar com verdade e graça. E a graça, como diz o mestre , é o que nos salva do desespero de acharmos que nos personificamos nos erros. Somos mais: somos esperança, caminho e processo em construção.
Por fim, em uma visão integrativa, o psíquico e psicologia podem caminhar juntas na prevenção e no tratamento da depressão, pois pessoas com elevação religiosa têm maior resiliência emocional, menor risco de suicídio e mais chances de encontrar sentido mesmo nas adversidades. A elevação espiritual oferece horizonte, acolhimento e propõe um novo olhar sobre si mesmo: não como um ser condenado, mas como um ser em processo. Por hoje ficamos por aqui. Até breve!!