Esquema de aprovações em certames públicos pode alcançar advogados “aprovados” em exame da OAB no Maranhão
A Operação Aleteia, deflagrada pela Polícia Civil do Tocantins, que prendeu no Piauí, Tocantins e Maranhão, 13 pessoas suspeitas de liderar a chamada “Máfia dos Concursos” pelo país, pode agilizar o trabalho da Polícia Federal, que visa desbaratar outra quadrilha que também é especializada em fraudar exames da Ordem dos Advogados do Brasil, vestibulares e concursos.
De acordo com uma informação exclusiva obtida pelo titular do blog, devem ser ajuizadas na Justiça pedidos de prisões preventivas (sem duração), temporárias (de 30 dias) e conduções coercitivas para esclarecimentos. Existem, inclusive, pedidos de buscas relacionadas a todos os alvos. A nova operação que deve ser desencadeada logo, logo, certamente culminará na prisão e cassação de falsos advogados em todo Brasil, incluindo, a capital maranhense.
Há tempos a Polícia Federal vem investigando o caso, devendo deflagrar há qualquer momento a mega operação que pode colocar na cadeia varias pessoas, inclusive, um conhecido parlamentar de São Luís. O grupo deverá responder por crimes de formação de quadrilha e corrupção passiva.
De acordo com uma fonte, cuja identidade está sendo resguardada, existe uma estreita ligação entre o bando preso, durante a Operação Aleteia, com dois dos suspeitos acusados de fraudar as provas da Ordem dos Advogados do Brasil.
O esquema já é de conhecimento de magistrados, defensores públicos, promotores, advogados e serventuários da justiça. Nos corredores do Fórum desembargador Sarney Costa – no Calhau, o assunto não é novidade para ninguém. Além de beneficiar um parlamentar, na lista de falsos profissionais estaria ainda o filho de integrante do judiciário maranhense, um ex- assessor de uma Casa Legislativa na Grande São Luís, e vários outros falsos juristas.
REPETECO
No caso do parlamentar, por exemplo, cujo nome está sendo resguardado para não atrapalhar as investigações, chamou atenção dos agentes que investigam o caso, o fato do mesmo residir na capital maranhense, mas, estranhamente, constar na lista de ‘aprovados’ do exame da seccional de Imperatriz, em 2015.
As investigações apontaram, inclusive, que esse mesmo parlamentar, que seria parente de um prefeito maranhense, já havia tentado aprovação no Exame de Ordem para a inscrição nos quadros da OAB como advogado, em 2009. No entanto, na época, as provas teriam sido realizadas em São Luís, mas como não logrou êxito pelas vias normais, impetrou, Mandato de Segurança objetivando anular questões que pudesse lhe favorecer, o que não deu certo.
O inquérito aponta que mais de 150 candidatos deverão ter suas inscrições canceladas. O resultado das investigações sobre as fraudes seriam referentes aos exames de Ordem em 2009, 2010, 2015 e 2016.
O caso teve desdobramentos, em novembro de 2016, logo após a prisão de um advogado, quando este tentava se passar por um sobrinho na prova para o vestibular do curso de Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Maranhão (CFO), da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Depois da prisão do causídico, a polícia descobriu que ele fazia parte de uma quadrilha que cobrava até R$ 30 mil de candidatos que quisessem aprovação em seletivo, concurso, vestibular e até Exame de Ordem. Como o suspeito passou a ficar bastante conhecido na capital, começou a ser contratado juntamente com outro parceiro para realizarem as provas no interior e no vizinho Piauí.
Em conversa com uma fonte que chegou a participar das investigações, sabe-se que o advogado já delatou que ele e o parceiro seriam os responsáveis em responder as provas, e estaria disposto a entregar como funcionava o esquema. “Segundo já apuramos, além da prova do parlamentar, bastante conhecido na capital maranhense, ele também teria feito o exame, de forma fraudulenta, de vários outros “advogados”, cujas carteiras também são falsas”, conforme revelou a fonte.
Ainda segundo as informações, o caso ainda não estourou em razão do medo dos dois acusados serem executados. “Eles acreditam que possam ser assassinados, pois no Maranhão, por exemplo, envolve muita gente grande, mas além de já terem revelado detalhes que nos permitirá identificar as cabeças da organização criminosa, declinaram como ocorria de fato o esquema. Eles estariam dispostos a falar o que sabem, já que a fraude não é difícil de ser detectada, haja vista que a digital do advogado preso e do comparsa jamais vão bater com a do aprovado”, revelou a fonte ao qual tivemos acesso.
CABEÇA DO ESQUEMA
De acordo com as informações obtidas com exclusividade, o esquema fraudulento teria como “cabeça” um também “advogado”, que seria filho de um membro do judiciário maranhense, que foi o primeiro aprovado pelos acusados e, atualmente, estaria figurando como intermediador do bando na capital maranhense.
No inquérito, que corre em sigilo, foram fraudadas três provas da OAB aplicadas em maio e setembro de 2009 e em janeiro de 2010. O esquema continuou também em 2015 e 2016. Os envolvidos foram identificados por meio do Sistema de Prospecção e Análise de Desvios em Exames (Spade), software que rastreia, compara e analisa as respostas dos candidatos, apontando quais têm mais probabilidade de ser adulteradas.
OPERAÇÃO SAI ATÉ SETEMBRO
A PF fez um laudo pericial e outras investigações e espera prender os ‘aprovados’ apontando as divergências no cruzamento das digitais das identidades dos candidatos que realizaram as provas com as digitais dos que obteve a carteira.
Embora esteja tramitando em segredo de justiça, a ação penal que investiga o esquema está na reta final. A estimativa é de que a operação para prender os falsos advogados seja desencadeada até o final de setembro.
OPERAÇÃO ALETEIA
Dez pessoas foram presas ontem em São Luís e no interior do estado durante a operação Aleteia desenvolvida pela Polícia Civil do Tocantins, com apoio da polícia do Maranhão e do Piauí. Elas são acusadas de fraudar o concurso da Polícia Militar do Tocantins para os cargos de soldado e oficial, ocorrido no dia 11 de março deste ano. O líder do bando, Antônio Ferreira Lima Sobrinho, o Antônio Concurseiro, foi detido em companhia de sua esposa, Aline Oliveira Santana, e da cunhada, Gabriela Oliveira Santana, em Teresina.
Antônio Concurseiro já havia sido preso em dezembro de 2012, em Caxias, suspeito de fraudar o concurso de soldado da Polícia Militar do Maranhão. O delegado Marconi Matos, do 1º Distrito Policial, informou que um dos criminosos, Dionatan Soares Belfort, é estudante do curso de Direito. Ele foi preso em uma faculdade particular, na capital, e conduzido à delegacia. “O detido negou a participação nessa ação, mas afirmou que conhece Antônio Concurseiro”, declarou o delegado.
Marconi Matos disse, também, que esse criminoso foi detido em cumprimento a um mandado de prisão temporária e vai ser encaminhado ao Complexo Penitenciário de Pedrinhas onde ficará à disposição do Poder Judiciário do estado de Tocantins.
MAIS PRISÃO
As outras prisões no Maranhão ocorreram na região de Pindaré. O delegado Ederson Martins, da regional de Santa Inês, declarou que foram presos nas cidades de Santa Inês e Pindaré-Mirim Wylmerson Rumbe dos Santos Silva, Mailson de Paiva Vieira, Renner Ferreira Moraes Mendes, Luís Fernando Melo Nascimento, Flaviania Silva Furtado e Jhonata Araújo Cantuário.
Na cidade de Zé Doca foram presos Fernandes da Silva Souza, Abimael Silva Almeida e Hagaer da Silva Lima. O delegado também informou que os detidos foram conduzidos para a Delegacia Regional de Santa Inês onde prestaram esclarecimentos.
CAPITAL PIAUIENSE
Já em Teresina, o Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Greco) do Piauí prendeu Antônio Concurseiro, Aline Oliveira e Gabriela Oliveira, em um condomínio residencial, na zona leste de Teresina.
A delegada Alexandra Santos, da Greco, disse que Antônio Concurseiro estava inscrito no concurso da Polícia Civil do Piauí, realizado este ano para os cargos de agente e perito e está sendo investigando. “Ele já tinha sido aprovado em vários concursos. É muito inteligente, faz as provas e depois repassa as repostas para outras pessoas. Não temos ainda detalhes da participação das duas mulheres, porque tudo será feito pela polícia do Tocantins”, explicou Alexandra Santos.
INVESTIGAÇÃO
O bando estava sendo investigado pela Delegacia Especializada de Investigações Criminais da Polícia Civil do Tocantins. O delegado Bruno Boaventura, da regional de Araguaína, informou que no dia da prova do concurso da PM do Tocantins, uma agente de limpeza, encontrou um celular dentro do cesto de lixo do banheiro de uma faculdade da cidade de Araguaína, com uma mensagem com respostas da prova.
No decorrer da investigação ficou constatado que Antônio Concurseiro era o responsável por realizar a prova e repassar o gabarito para candidatos que pagaram pelas repostas. Nesse concurso havia mais de 80 mil inscritos, com 1.000 vagas destinadas a soldados e 40 a oficial. Esse certame está suspenso por determinação judicial até o fim do processo eleitoral para a escolha de um governador tampão.
OUTRA FRAUDE
Antônio Concurseiro e mais 26 pessoas foram presas durante uma operação da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) realizada em dezembro de 2012 acusados de fraudar o concurso das Polícias Militar e Civil do Maranhão e Corpo de Bombeiros.
As prisões ocorreram nos locais de provas desse certame, na capital e em Caxias. A quadrilha atuava da seguinte forma: pessoas “experts” no conteúdo do certame foram levadas para fazer a prova, com o compromisso de fotografar os gabaritos e repassá-lo para quem contratou o serviço. O valor cobrado era de R$ 15 mil, sendo a metade paga antes da prova, para receber as respostas, e o restante caso conseguisse passar no concurso.
FONTE: https://maranhaodeverdade.com/